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Mostrando postagens de 2021

Regina.

     Nossa história não começou exatamente em um barzinho ou uma tarde ensolarada. O relógio contava pouco antes das oito de uma manhã chuvosa e particularmente sem graça. Era o meu primeiro dia na reabilitação e eu só desejava ir embora. O tratamento tinha previsão de trinta dias - disseram ser o período adequado para assegurar que eu não voltaria a beber e fumar. Foi ali, por livre e espontânea pressão familiar, que conheci Regina.      Ela fez questão de se apresentar. Foi delicada. Sentou ao meu lado para me fazer companhia. Permaneci cabisbaixo por um tempo olhando para o prato de comida fria. Minha concentração estava toda em sua voz. Não demorou muito para que eu percebesse que se existissem dez maneiras de fazer algo, ela inventaria a décima primeira. E eu ainda nem tinha visto a figura.      Regina sabia falar e ouvir. Preencheu meu silêncio inicial com dicas de como sobreviver naquele lugar e soltou risos distraídos a quem quisesse ...

Amélia.

Fomos apresentadas quando eu tinha doze anos. Ela ainda era bem pequena e tinha os cabelos prateados. A vi em um reflexo distorcido no espelho do quarto. Só aparecia quando olhada de um certo ângulo e com um certo desejo. A moça vestia trajes diferentes quando eu piscava. Tive o impulso de piscar mais e mais rápido para apreciar a diversidade de cores e texturas que ela era capaz de inventar em milésimos de segundo. Fiquei tonta. Ela não pareceu notar. Permanecia imóvel e com um olhar perdido. Perguntei seu nome. Apontou graciosamente para os lábios costurados e depois para as têmporas. Ouvi minha própria voz dizer: “Não tenho um nome, só de dois dias sou” . Em minha inocência, chamei-a Amélia. Hoje escolheria um nome diferente. Tentei mostrá-la primeiro para minha mãe. Virei o espelho de diversos ângulos e pedi para que procurasse pela imagem da garota. Nada. Minha mãe chamou meu pai, que chamou a minha avó, que chamou a minha irmã. Todos tentaram entender a situação, mas não viram na...