O vilarejo onde cresci sempre foi extremamente calmo. Passei minha vida inteira em um povoado isolado na ilha de Hiiumaa, na costa oriental do mar Báltico. Sempre foi uma vivência um tanto pequena, mas, apesar do tédio, nunca tive do que reclamar. Eu e minha família éramos em cinco. Eu, minha mãe, minha avó e minhas duas irmãs habitávamos uma espécie de choupana de uns poucos metros quadrados. Não haviam figuras masculinas em nossa vivenda. Meu avô morreu antes de meu nascimento e meu pai, um estrangeiro que caiu em Hiiumaa por azar do destino, fugiu da ilha na primeira oportunidade que teve. Não o culpo por isso. A inércia do vilarejo é capaz de desvairar até as mentes mais sãs. A aldeota era sustentada por pesca e artesanato. Vendíamos nossos peixes para toda a Estônia e nossas habilidades artísticas eram vastamente reconhecidas. Apesar de aparentar nunca evoluir, a vila prosperava. Como minhas opções se restringiam basicamente a ser artesã ou pescadora (e essa tare...