Era uma tarde ensolarada de março. Lira estava trancada em seu quarto. Não havia uma alma viva disposta a conversar com ela. Nenhum de seus conhecidos era capaz de reservar cinco minutos de seu dia para trocar algumas mensagens. Cantava, porque o som da própria voz era menos solitário do que o silêncio. Nunca fora uma exímia pianista, muito menos uma cantora. Era tão medíocre nisso quanto em todos os outros hobbies que se metera a aprender. No entanto, a música a preenchia de uma forma especial. Por mais que não tivesse sido abençoada com o talento, dedicava algumas horas de seus dias ao piano elétrico amarelado. No meio de alguns gritos desafinados, Lira foi interrompida por um estrondo. Correu para a janela e abriu a cortina para observar. Nenhum sinal de desordem. Os vizinhos estavam calados, o sol aquecia suas bochechas e o único som externo era um cachorro latindo no quarteirão seguinte. Não deu importância ao barulho e voltou a tocar. Estava decidida a aprender Lábios ...