As primeiras coisas que se notavam eram as mãos. Unhas mal pintadas e anéis prateados se contorcendo rapidamente para preparar os drinques de uma plateia sedenta. Sempre com o olhar baixo e respostas prontas para engraçadinhos. A vi de relance muitas vezes. Em todas tinha feições de quem não queria conversas. Íris era uma espécie de faz-tudo. Parece ter sido contratada como bartender, mas não era raro encontrá-la no caixa, nos controles de áudio ou impacientemente ajudando alguém que tinha se excedido na vodka. Eu não bebo - bebia por ela. O álcool me concedia o prazer de alguns poucos segundos de diálogo impessoal enquanto ela me ajudava a escolher meu pedido. Ela trabalhava no bar todas as noites. Nunca faltava. Disseram-me que estudava música e precisava do dinheiro para investir em sua carreira. Imaginei que quisesse ser cantora. Vivia com fones de ouvido no pescoço e se escondia neles nos dias menos movimentados. Demorou um mês para que eu conseguisse fazê-la me olhar nos olhos. P...