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Mostrando postagens de outubro, 2016

Luce.

Amava música como ninguém. Recitava Baudelaire como se Flores do Mal tivesse sido escrito por ela própria. Luce exalava poesia. Eu amava poesia. Nos conhecemos por acaso - há quem chame de destino, mas nunca gostei de acreditar que as coisas fossem determinadas por uma força maior. Eram 4:30h da manhã e eu estava sozinho em um mirante na praia do Rio Vermelho esperando o amanhecer. Costumava ir a esse mirante para pensar quando a correria da vida afogava minha mente. Depois do terceiro cigarro, minha vista foi tomada por uma figura distante. Havia uma moça com um suéter avermelhado andando descalça na areia. Ela olhava o mar com intensidade, como se quisesse absorvê-lo. O vento fazia seu cabelo castanho dançar elegantemente. Tudo sobre ela era gracioso. Encarei-a por instantes, mas ela parecia estar conectada demais à ventania e às ondas para notar minha existência.  Na madrugada seguinte, retornei ao mirante na esperança de revê-la. A peculiaridade da moça do suéter vermelho...

A Medíocre História de Timothy.

Numa madrugada invernosa de julho, nasceu Timothy. Fraco, magro, frio. Fruto de um estupro, foi jogado em um orfanato. A mãe não quis vê-lo. As enfermeiras escolheram seu nome.  Pobre Timothy, não foi amado. Aos três anos, descobriu o mundo mágico da música. Cantarolava adágios por horas, batia palmas para manter o ritmo. As notas desafinadas ajudavam a passar o tempo.  Não tinha coleguinhas. Refletia em todas as possíveis relações a falta de amor em sua alma.  Pobre Timothy, nunca amaria.  Aos dez anos não sabia ler ou escrever. Nunca fôra à escola. Não falava, não interagia. Mas cantava. Sozinho. Aos doze foi adotado por pais que perderam a filha em um acidente. Queriam-o para substituto. Fugiu. Não sabia ter família. Pobre Timothy, não sabia amar. Aos quinze anos não tinha nada. Vagava pelas ruas como um garoto perdido - e era. As madrugadas gélidas e vazias eram de pensamento. Sua mente pulsava pura desordem. Sofria com a consci...