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Um pesadelo aleatório.

O entardecer estava pálido.
Acordei em uma avenida desconhecida. A temperatura do asfalto fazia meu rosto arder. Meus cabelos, desgrenhadamente amarrados, indicavam cansaço. Levantei com dificuldade, revelando ferimentos rasos nas costas e nas pernas. Olhei em volta em busca de ajuda. Não havia ninguém.
A cidade parecia uma grande metrópole, mas não havia uma alma sequer - nem a minha. Comecei a andar sem rumo pela avenida vazia com uma esperança vaga de não estar sozinha. As feridas sangravam e eu me esforçava para ignorar a dor.
Andei por algum tempo. Quanto tempo? Não sei. Pareceram horas, mas podem ter sido apenas alguns minutos. No meio da caminhada monótona de tempo indeterminado, uma figura distante se destacou em meu campo de visão. De súbito tornei-me pura esperança.
Empenhei toda a força que me restava para correr em direção à figura humanoide. Mil perguntas gritavam no meu subconsciente. Para onde foram todas as pessoas? O que aconteceu comigo? Que lugar era aquele?
A felicidade só durou alguns segundos.
Observando a figura se locomover, ficou claro que ela era tudo menos humana. Congelei. O ser corria muito. Conforme se aproximava velozmente, seu tamanho assustava. Não era imenso, mas não era humano. Mesmo com a considerável distância, era perceptível que a criatura me encarava. Senti-me completamente nua e indefesa.
Podia correr na direção oposta, mas de que adiantaria? Seria alcançada em questão de poucos minutos. Podia tentar me esconder em uma das construções vazias, mas, novamente, de que adiantaria? Eu sentia aquilo me enxergando. Era impossível fugir.
Decidi então poupar minha energia e ficar parada esperando o encontro inevitável. A cada segundo meu corpo se arrepiava mais com o olhar penetrante do ser. Finalmente ele alcançou uma distância na qual eu conseguia observar sua face, e ela era estranhamente incomum. Era humana e não era. Parecia um rosto, mas os traços eram harmônicos demais. Perfeitos demais. O que era aquilo?
A criatura parou. Estava a dois metros de mim, mas sua presença quase me transpassava. Olhava-me sem parar como quem estuda algo. Seu olhar tinha um tom de desprezo, um ar de superioridade.
Ouvi minha mente dizer “Haziel te quer morta.”

Espera, fui eu quem disse isso? Quem é Haziel?

Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, o ser enfiou uma adaga prateada entre minhas costelas e, como em todos os sonhos, acordei na hora exata em que morri.



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