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Nada que alguns goles de álcool não resolvam.


São 3:28h da manhã e minha única companhia é essa garrafa de vodka.
"Um shot", disse a mim mesma.
Nunca é só um shot.

Ás vezes a gente só precisa espairecer a mente, não é?
No meu caso, preciso tirar uma folga da minha consciência.
Preciso esquecer que meus problemas existem, pelo menos momentaneamente.
É só uma garrafa. Isso vai me fazer bem.

Um shot se tornou dois.
Dois se tornaram cinco.
E lá se foi a garrafa inteira.
Vai ficar tudo bem. No máximo uma ressaca amanhã.

É.
Não passou muito tempo e já sinto a cachaça no controle.
Minha visão está turva.
Minha cabeça dói.
Não consigo me manter em pé.
Vai ficar tudo bem.

Me deu vontade de ligar pra ele.
Porque não?
Ele me odeia.
Eu o amo.
Não me importa.
Eu vou ligar.

E disquei os números embaralhados na tela ardorosamente iluminada do celular.
Nove... Três... Oito? 
Não lembro mais.
Acho que teclei certo.
Ou não?
Eu não sei.
Acho que tenho o número na agenda.
Isso é uma boa ideia?
Isso é uma ótima ideia.

"Alô?"
Virei só choro.
Ele desligou o telefone.
Ele me odeia, não é?
Ele me odeia.
Nunca vou ser o suficiente pra ele.
Vou ligar de novo.

Ele não atende.
Quem ele pensa que é pra me ignorar?
Vou mandar uma mensagem.

"voce sempre foi meu samor e eu et amo porqee voce some assim"

Vai ficar tudo bem?
Eu não sei mais.
Eu amo essa música.
Estou me divertindo muito.
Todos estão perdendo isso.
Eu sou extremamente feliz.
Eu sou extremamente feliz?
O que estou fazendo?

O vizinhos estão mandando abaixar o som.
Vou mandar todos eles pro inferno.
Ouço a música que eu quiser.
Eu sou muito feliz.

Alô?
Porque você não me atende?
Ei.
Você já esqueceu mesmo de mim?
Pois eu também já esqueci de você.
Não sinto mais nada.
Sua presença já se dissipou.
Eu te amo tanto.

Eu vou embora.
Cansei.
Não tenho paciência.
Cala a boca, vizinho do demônio.
Me deixa em paz.

EU VOU ME JOGAR SIM E NINGUÉM VAI ME IMPEDIR.
Eu paro se vocês me prometerem que vão trazer ele aqui.
Ele não vem?
Ele vem sim.
Ele me ama.
Não é? É sim. Eu sei que é.

Eu não vou cair.
Relaxem.
Tudo sob controle.
Sei exatamente o que estou fazendo.

É, eu realmente não sabia o que estava fazendo.
Aquele parapeito era mais baixo do que eu pensava.
Meus sentidos etílicos me derrubaram, literalmente.
Em questão de segundos meu corpo encontrou o asfalto gelado.
Ah, ele nem foi me ver no hospital.
Só mandou uma mensagem dizendo "você tem sorte de morar no primeiro andar".

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