A brisa de verão é o último toque de calor a deixar meu corpo. Meus pelos respondem. Meu cabelo já não é nada senão um monte de cachos caídos por onde querem. O cheiro do sal me incomodava no início, mas hoje me acolhe como um parente. Talvez meu único parente.
Eu nunca sei o que venho fazer aqui. Simplesmente há algo que me atrai. Juro todas as vezes que será a última, mas volto a cortar meus pés nessas mesmas conchas. Prometo: essa será a última.
Talvez eu continue voltando porque é aqui onde meu desleixo tem paz. Meu desleixo é voz e pensamento. Sou eu, nua e ferida. Só. E só medito. Eu e meus sentidos. Sentidos esses que me traem como um bom amante.
O crível e o incrível são figuras dispersas.
A dor acalenta e não provoca lágrimas.
Os pés descalços não protestam pela urgência de um caminho.
Eles desistiram.
Todos os caminhos sempre trarão à mesma praia.
Praia essa que é suja. Talvez tenha sido bonita um dia, eu não sei. Está coberta de entulho. Nem mesmo o reflexo da lua milimetricamente alinhada em meu campo de visão é capaz de sobrepor o desalinho de todos esses restos. Eu sei a origem de cada um deles, mas não sei quando os perdi. Estou por toda parte, mas só por aqui. E eis que a verdade bate à porta - aqui não existe.
Estou em lugar nenhum.
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