Quando a conheci já não restava muito tempo. Foi sofrido, confesso. Nunca tinha ouvido falar de um fenômeno tão doloroso. Encontrei-a já no chão e faltavam-lhe as pernas. Chorava como se alguém tivesse as arrancado, mas não havia sangue e éramos só nós dois. Ela não conseguia falar e eu não conseguia entender. Queria ajudar mas nada parecia ter acontecido.
Foi então que uma brisa leve nos abraçou e a moça começou a se contorcer. Encarei seu corpo em confusão. Suas mãos dissolviam em migalhas com o vento. O susto levou à angústia, que levou ao desespero, que não levou a nada. Tentei juntar os farelos, mas foi em vão. Uns conseguiram encontrar o caminho de volta, outros já não eram nada além de memórias.
Tentei segurá-la, mas a menina de areia desmanchou com meu toque. Gritamos, nós dois. Ela pela dor e eu pelo mais puro desespero de sentir alguém morrer e não conseguir evitar. A cada segundo mais partes se desfaziam e mais alto ela chorava. Seu olhar tinha urgência pelo epílogo. Os grãos de areia pesavam uma alma que já não queria mais existir.
E se foram, um a um. Assoprei-a e fui seu fim. Imaginei que fosse a esperança de um aflito, mas fui lástima. O cerne se desfez lentamente, como um sádico aproveitando cada segundo de dor. Os gritos ecoaram com o vento que a levou embora. Não soube seu nome. Não soube quem ela era. Toda a sua existência agora é um monte de areia muda sujando meus pés.

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