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Mostrando postagens de 2018

Há quem veja beleza.

A brisa de verão é o último toque de calor a deixar meu corpo. Meus pelos respondem. Meu cabelo já não é nada senão um monte de cachos caídos por onde querem. O cheiro do sal me incomodava no início, mas hoje me acolhe como um parente. Talvez meu único parente. Eu nunca sei o que venho fazer aqui. Simplesmente há algo que me atrai. Juro todas as vezes que será a última, mas volto a cortar meus pés nessas mesmas conchas. Prometo: e ssa será a última. Talvez eu continue voltando porque é aqui onde meu desleixo tem paz. Meu desleixo é voz e pensamento. Sou eu, nua e ferida. Só. E só medito. Eu e meus sentidos. Sentidos esses que me traem como um bom amante.  O crível e o incrível são figuras dispersas.  A dor acalenta e não provoca lágrimas.  Os pés descalços não protestam pela urgência de um caminho.  Eles desistiram.  Todos os caminhos sempre trarão à mesma praia.  Praia essa que é suja. Talvez tenha sido bonita um dia, eu não sei. Está co...

Brisa.

Não aconteceu nada de particular naquele dia. Acordei atrasada para a faculdade e corri até o ponto de ônibus ainda com um copo de café nas mãos. Sentei, arrumei meus cachos desgrenhados e coloquei um batom discreto enquanto esperava. Não demorou muito.  Cheguei na faculdade e decidi não entrar na primeira aula. O dia estava bonito demais para me trancar em uma sala com ar-condicionado e eu já estava atrasada de qualquer jeito. Joguei minhas coisas em um canto e fui conversar com o jardineiro. Ele sempre tinha alguma reclamação a fazer e eu gostava de ver o quanto ele se importava com as flores. Sempre gostei muito de flores. Não consigo lembrar quais aulas tive. Minha memória está cada vez menos específica e já não me recordo de alguns dados importantes. Talvez esse relato não passe de uma invenção da minha cabeça. Nunca saberemos. Passei a manhã na faculdade. No fim das aulas, peguei o primeiro ônibus. Acho que estava indo para casa. Lembro-me de transitar pela orla ...

Inconsciente.

Acordei certa feita sem saber o que me fizeram. Meu corpo pesava duas vezes o meu peso e minha cabeça doía. Nada de incomum acontecera na noite anterior e nenhum sinal de doença me acometia.  Levantei com dificuldade e fui ao banheiro buscar o espelho. Não me vi. Não vi porque não havia nada para ver. Eu não estava lá.  Busquei outros espelhos para confirmar minha ausência. Todos eles declaravam o mesmo. Ou aqueles não eram espelhos ou minha razão já não me sustentava como antes.  Saí em tremores seguindo a voz de alguém. Alguém esse que soava familiar, mas do nome eu não me recordava. O som me levou a uma moça. Ela pedia ajuda para alcançar um vaso em uma prateleira alta. Sua feição calma não parecia ter ciência do sumiço do meu reflexo. Expliquei a ela toda a situação. Ouviu atentamente e começou a procurar algo em uma gaveta. Pediu-me para sentar e disse que me ajudaria. Em instantes, sua feição calma deu lugar a um rosto disforme e assimétrico. Ela me mataria...

Prelúdio.

Meu nome é vento, qual o seu? Mostre-me algum e talvez nos conheçamos de uma esquina qualquer. Ou não. É difícil distinguir os tons de gris. Peço desculpas, mas talvez você é quem devesse pedir. Afinal, me apresentei, mas ainda não sei o seu nome. Você sabe? Meu nome é lua, qual o seu? Poderia ser estrela ou mar, mas existem estrelas demais e o mar é incapaz de contemplar sua constância. A que destino leva um caminho constante? Responda-me, pois tal destino será o seu. Você sabe? Meu nome é cigana, qual o seu? Decida-se enquanto há hora. O tempo existe, queiramos nós ou não. O tempo tem um nome. Quem são aqueles que não tem nenhum? Você sabe?